Em duas refeições frugais, o pacote de biscoitos – que era enorme ficou reduzido a nada. Desolada, Taís não parava de fitar o pacote - agora quase vazio -, e que tendia mais para um lado que para o outro.
Com tristeza lembrou que todo o esforço feito na academia pela manhã havia sido em vão. Na vida, odiava ter que ir malhar mais do que tudo: 1h de esteira, 30min de bicicleta, sei lá quanto tempo de musculação. E, para finalizar ainda havia a tortura dos tais abdominais, que costumava chamar de “abominais”.
E tudo pra quê? Para competir com as amigas de ocasião que, assim como ela, também estavam ficando velhas e largas... Riu-se da alusão.
Uma coisa que tinha era senso de humor. Humor sarcástico ou negro, que às vezes a fazia rir ironicamente das próprias desgraças. Como nas vezes em que escutava um assovio de admiração na rua e se pavoneava toda, mesmo sabendo que era para a sílfide à sua frente.
Olhava-se no espelho todas as manhãs e maldizia as novas rugas, mas se rejubilava porque elas também apareciam corajosas nos rostos redondos das famosas. No espelho, olhava para os olhos e já não via neles o brilho da juventude. Pelo contrário, começavam a ficar embaçados - talvez por uma iniciante catarata -, ou pela desesperança de um dia vestir manequim 40.
Mas mesmo sabendo ser o tempo um demolidor implacável a La Schwarzenegger, esforçava-e para retardar o inevitável e em sua agenda não faltavam visitas a clínicas de estética para aplicações de botox, maquiagem permanente, massagem modeladora, drenagem linfática...
Ufa! Tanto esforço para que sua baixa auto-estima não fosse amarrotada pelo estilo ‘de bem com a vida’ da vizinha gostosona. A tal monopolizava os olhares no elevador e a atenção do síndico, que se desmanchava aos seus pedidos e caprichos. Ela até exibia um bumbum empinado. Seria silicone? “Hoje em dia não se tem mais certeza de nada...” Os peitos eram, disso ela tinha certeza pois o tamanho causariam inveja a americana Pamela Anderson! E a barriga? Esticadinha! “Que nojenta”, pensou!
E agora, fitando o saco dos biscoitos, via tudo ir por água abaixo! Quantas calorias, mesmo?! Eram dos mais doces que havia na prateleira do supermercado. Daqueles folheados (com muita gordura hidrogenada) e ainda por cima açucarados! Melhor nem ler as informações calóricas no pacote. Mas se fosse honesta consigo, teria de admitir que os três croissants no cafezinho da tarde anterior, ou a picanha com capa de gordura no almoço também a fariam afundar a balança.
Melhor então é parar de sofrer, ligar pra amiga e combinar um choppinho (ou mais) no final do dia! Não sem antes prometer que no dia seguinte começaria a dieta, baniria todos os biscoitos e guloseimas da despensa e nem chegaria perto de uma cervejinha.
No fundo, era o que se prometia todos os dias... Afinal, ser gorda não é um tipo físico; é um estado de espírito... Quem foi que lhe disse isso mesmo?!
Rosane Leiria Ávila
Publicado no Mulher Interativa (Jornal Agora)
http://www.jornalagora.com.br/site/index.php?caderno=48¬icia=77096
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