“Você quer amar para sempre? Ame todo dia”. O conselho é da psicóloga Lídia Rosenberg Aratangy, autora de “O anel que tu me deste – o casamento no divã” (Primavera Editorial, Ed. 2009, 202 pp). Terapeuta de casais é autora de uma dezena de livros. Para ela, relacionamentos são difíceis – não importa se são vividos através de namoros ou casamentos. O texto abaixo é extraído e compilado de sua obra.
Com o tempo, com a convivência, sem que o outro tenha se modificado, sem que tenha sequer se movido do lugar, tudo aquilo que antes encantava, passa a irritar.
O que mudou? O olhar.
O objeto continua o mesmo, a diferença está na maneira como as palavras e atitudes são vistas.
Os relacionamentos amorosos não fogem de ciladas... Quase todos caímos e não há diploma de pós-graduação nem de experiência de vida que nos permita andar com segurança sobre essas areias movediças, disfarçadas dos mesmos alçapões que representa a cegueira da paixão e a dificuldade de lidar com o fato de que o casal é composto para duas pessoas diferentes.
Um dos sinais mais claros dos inimigos da relação amorosa é acreditar que se conhece o outro - processo que interrompe a comunicação e condena o casal a viver no império do silêncio...
Outro é a perda da comunicação entre os parceiros, que desistem de se expor depois de ser inúmeras vezes mal interpretado. À essa altura a relação perde o brilho pois os dois se descuidam de si e do outro.
Segue-se, então, outra faceta nefasta: a sensação de incompetência torna-se um divertimento permanente. Nessa altura, o olhar de desdenho que cada um repousa sobre o parceiro reforça a incompetência, nega-lhe qualquer valor, congela a distância e decreta a morte da relação.
Reconhecer os fantasmas que contaminam (e às vezes enriquecem) o relacionamento fortalece os vínculos amorosos, com a intenção de permanência (e talvez isso seja o mais próximo que podemos chegar de uma definição de casamento hoje) podem assumir inúmeras formas.
O não vivido tem sempre um irresistível apelo, pois é possível pintá-lo com as cores que a fantasia criar.
Nós, os humanos, não somos homogêneos. Dentro de nós, o que há de mais digno no patrimônio genético e cultural convive com as tendências mais torpes. Somos habitados por diferentes personagens e sentimentos: somos fortes e frágeis, generosos e mesquinhos, princesas e bruxas, príncipes e dragões. As mais diversas figuras coexistem em nosso mundo interno, e se expressam como diferentes facetas de nossa personalidade.
Porque somos múltiplos, o casamento (definido como uma relação amorosa com projeto de permanência) é um vínculo especialmente favorável ao nosso crescimento e equilíbrio emocional, pois permite o exercício de inúmeros papéis, assim como abre espaço para o desenvolvimento de diferentes personagens internos.
O amor dá trabalho. Não é coisa para gente covarde e preguiçosa. Quem é preguiçoso, desiste fácil e mais facilmente optará pela morte da relação. A verdade é que o amor teria mais chance se, diante de um desencontro, os parceiros procurassem entender juntos a situação, com curiosidade e interesse, em vez de percorrer caminhos antigos, invocando conhecidos fantasmas de desentendimentos passados.
Por: Rosane Leiria Ávila
Publicado no Mulher Interativa (jornal Agora) 16-01-2010
http://www.jornalagora.com.br/site/index.php?caderno=48¬icia=76425
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