quarta-feira, 28 de setembro de 2011

O adeus que não é adeus




Recebi a notícia e deixei-a de lado pra pensar sobre o fato, consumado e irreversível, depois. Pra sentir depois, pra lembrar depois...
Acabei o trabalho, preparei meu almoço, levei o cão para o passeio, dei comida para o gato e até pudim eu fiz.
Depois, quando estava exausta – desconfio que esse era o propósito – parei para pensar. Mas tudo o que sentia era um profundo estado de torpor.
Sentada no sofá quase sob o sol, do meu posto eu tinha uma vista panorâmica do céu. Brinquei com as nuvens e suas formas e viajei no infinito do azul celeste.


Só então o rosto do Zé (José Guimarães) apareceu nítido em minha memória e eu saí do estado letárgico. Enxerguei seus olhos mais azuis do que eram e seu sorriso mais largo. Foi então que a emoção começou a tomar conta de mim devagarinho e deu-se início a uma série de cenas como numa peça teatral ou num filme, onde ele era o ator principal e eu a coadjuvante.
Na verdade, éramos dois protagonistas porque fragmentos de conversas, fofocas sussurradas, gargalhadas escancaradas... Tudo isso estava ali naquele momento em que o busquei na memória o deixei sentar ao meu lado no sofá.


O Zé era uma festa. Encontrar com ele era sempre um acontecimento alegre e deliciosamente divertido. Era também tomar uma ducha de informação, cultura e modéstia. Sim. Ele era uma pessoa simples e despretensiosa. Daquela simplicidade que veste a cor do ouro sem o saber, que reluz sem o pretender.
Zé abandonou o colunismo social quando a futilidade se tornou insuportável para ele. Deixou a lacuna ser preenchida por outros ávidos por holofotes. Ganhou com isso. E ganharam todos os leitores de O Peixeiro que passaram a ter semanalmente críticas sobre arte.
A cidade também ganhou, pois, sob o crivo de uma crítica por quem tinha conhecimento e cultura para isso, arrisco dizer que artistas começaram a se esmerar para merecer seu olhar e seu destaque sobre seus trabalhos e produções.


Costumava também encontrar o Zé em alguns eventos – embora ele fosse ‘arisco’ a freqüentar a noite. Nesses, ele sempre me interpelava perguntando seu eu comeria carne de porco. Implicância amável e carinhosa, pois sabia ser eu uma vegetariana convicta. Ríamos com facilidade de e nos divertíamos com pouco.
Em alguns desses eventos também encontrávamos o Gil (Barlém Martins) falecido em 2009, também ex-colega de redação. Aí, a festa realmente virava uma festa!
Acredito que agora estão os dois reunidos dando continuidade às galhardias.

ROSANE LEIRIA ÁVILA
Publicado em O PEIXEIRO no dia 30 de agosto de 2011
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