Você sabe o que são flash mobs? Até bem pouco, eu também não sabia. Essa nova informação – pelo menos pra mim - estava em minha caixa de correspondência há alguns dias. Flash mobs são propostas para despertar o olhar e a mente automatizados pela rotina estressante das grandes cidades. Algumas manifestações são previamente combinadas pela internet.
Levantando bandeiras sociais, comportamentais e ambientais, os flash mobs promovem o encontro de desconhecidos unidos em torno de uma causa, imbuídos por um esforço nobre que procura reverter o isolamento das pessoas.
Desconhecido não só para mim, mas também para a grande maioria das pessoas, tem conquistado cada vez mais adeptos.
O primeiro desses movimentos é em relação aos livros. Segundo o idealizador do projeto “Livro Livre”, Felipe Meyer, “livros não são objetos de decoração e devem percorrer um caminho”. Por conta disso, o paulistano passou a se deparar com livros propositadamente esquecidos por alguém em bancos de praças ou pontos de ônibus.
O conceito é inspirado no projeto Bookcrossing, criado em 2001 nos EUA. Ao todo, conta com 600 mil participantes em cerca de 130 países. Lembro de uma reportagem apresentada por Ana Maria Braga sobre um movimento semelhante há uns dois anos. Pena que de lá para cá, as atitudes nesse sentido no Brasil ainda sejam tímidas, pois o movimento esbarra em entraves econômicos e sociais.
Gentileza às escuras
O segundo movimento é o Café do Próximo, uma corrente surgida há três anos na qual o cliente deixa pago também um cafezinho para o cliente seguinte, o qual desconhece totalmente.
Motivada, a dona de um café na Vila Madalena, em SP, Beth Guido, resolveu acatar a sugestão do psicólogo Marcos Fleury, que conhecera a prática na Livraria Argumento, no Rio. “Pagar o café para alguém é uma demonstração simbólica de afeto”, define ela. Para o psicólogo, por meio dessa gentileza às escuras os adeptos também se aproximam das outras pessoas, mesmo que não conheçam seus rostos.
Embora tenha quem ainda se surpreenda com a proposta do estabelecimento, a lousa gasta onde ficam anotados os cafés ofertados gratuitamente, é prova do sucesso da ação.
Iluminação urbana
O terceiro flash mobs é o batizado de “Iluminação Urbana”. Em trajes sociais, as transeuntes vão se juntado à meditação do grupo Influenza (nome dado numa paródia ao do vírus H1N1), em plena Avenida Paulista. A meditação é feita na hora do rush para chamar a atenção das pessoas, valendo-se do silêncio em meio à balbúrdia de final de expediente. “Ao invés de lutarmos por uma revolução externa, buscamos uma revolução interna: a tranqüilidade em meio ao caos”, justifica o artista Alexandre Paulain, um dos criadores do grupo Influenza.
A prática da meditação geralmente está associada a imagens de ambientes zen, por exemplo. Imaginar-se algo assim em meio a um caos urbano é, no mínimo, estranho. Mas essa intervenção pacífica está sensibilizando não só participantes e pedestres: até mesmo menores de rua que, em paz, aproximam-se do grupo.
São pequenas atitudes revestidas de grandes gestos, mas capazes de tornar a vida melhor em qualquer lugar e a qualquer hora.
Rosane Leiria Ávila
Publicada no Jornal Agora wwww.jornalagora.com.br- 25 de julho de 2010