sábado, 27 de agosto de 2011

Nossos fantasmas



Ao longo da vida nos deparamos com muitos ‘fantasmas’. Alguns colecionamos por anos a fio até que uma terapia apague suas impressões. Outros, vão surgindo em nosso dia a dia e preenchem as páginas de nossa agenda com aquilo que anotamos e não damos conta de fazer. Um comum a muita gente é o fantasma do salário que não se estica feito elástico até o final do mês. Outro é aquele que ganha corpo pelo medo de ir a um médico e ele pedir uma porção de exames, e que depois de ser abatido cederá seu lugar a outro emergido pelo receio de um resultado inesperado. Não devemos nos esquecer também de listar aquele velho fantasminha infantil que nos assombrava com o medo do dentista e sua maquininha de dor estridente...
Há ainda os fantasmas da corrupção, da roubalheira do dinheiro público e dos maus políticos. Da decepção do voto dado pra quem não está fazendo por merecê-lo. Do medo da violência na rua, no banco, no trânsito... O fantasma da competitividade que dá ímpetos a um colega de arrancar o fígado do outro no seu ambiente de trabalho.
E, ultimamente, do fantasma do tempo. Não o tempo que nos deixa mais velhos a cada dia e do qual não podemos, e não queremos fugir; caso contrário, precisaríamos morrer. Falo desse tempo-clima maluco que faz a temperatura despencar mais de 10 graus em menos de 24h. Que nos palhaços urbanos vestidos para verão e inverno, com filtro solar e guarda-chuva. Outro dia, uma moça de São Paulo comentou que saía de casa às 6h da manhã com roupa de inverno por causa do frio. Mas na mochila carregava vestuário de meia estação, de verão e até biquíni, porque no final do dia poderia estar muito quente e assim ela poderia dar uma passada no clube antes de retornar à sua casa.
Afora esse fantasma doido e trapaceiro, ela também tinha outros, como o do trânsito emperrado e o de enfrentar um temporal na rua com direito a enxurradas e tragédias.
Ah, são muitos os fantasmas cotidianos, alguns extravagantes, excêntricos, idiotas, absurdos! A parte boa disso é que com o tempo vamos ganhando tarimba para lidar e abater alguns. Os mais resistentes e encouraçados viram verdadeiros monstros com poder de fogo para roubar o brilho, o sorriso, a leveza e a despreocupação dos semblantes mutando-os em caricaturas carrancudas...
Por fim, meus mais recentes fantasmas são crias desse inverno chuvoso e frio. Eles me fazem lembrar uma infância povoada por roupas molhadas estendidas no varal do pátio por vários dias, que brincavam com meu imaginário ao se moverem ao comando do vento. Ou quando bruxuleavam na sombra das luzes à noite.

ROSANE LEIRIA ÁVILA
www.jornalagora.com.br

Espelho meu



Dizem que diante de um espelho ninguém consegue ficar indiferente. Embora eu creia que ninguém até hoje parou diante de um para fazer aquela famosa pergunta do conto infantil "espelho, espelho meu, existe alguém mais bela(o) do que eu?", acredito que a maioria das pessoas façam um stop breve para dar uma rápida conferida em seu visual e sentir-se, de acordo com o nível de sua auto-estima, se está bem ou mal. Se aprova, ou não, a imagem revelada à revelia.
O escritor Umberto Eco, no ensaio "Sobre Espelhos", Ed. Nova Fronteira, 1989, afirma que confiamos nos espelhos como confiamos nos óculos ou binóculos: "os espelhos são próteses". Na verdade, acho que todos somos muito suscetíveis à imagem no espelho. E que a história da humanidade prova que homens e mulheres eram, e continuam sendo, invariavelmente vaidosos.
Mas, apesar de refletirem nossa imagem, os espelhos nem sempre são fiéis: às vezes se mostram cúmplices, em outras, algozes. Há os que deformam e distorcem propositalmente e os que fazem isso por erro de fabricação. Será?! Bem, de qualquer forma, esses últimos certamente são aqueles que nos deixam mais feias! Certamente, alguma vez você já se olhou e viu que aquela imagem refletida num determinado espelho a deixou mais bonita ou mais feia, sem necessariamente você estar de uma ou de outra forma. Dei-me conta disso há algum tempo e, coincidentemente, em lugares estratégicos. Será intencional? Espelhos em provadores de lojas, em academias, em salões de estética ou beleza, às vezes me parecem bem diferentes daqueles lá de casa. As imagens no lado de lá são suspeitamente mais jovens, mais magras, mais coradas... Até o cabelo tem mais brilho...
A Wikipédia, socorro pra todas as horas, dirime minhas dúvidas explicando que “existem diversos tipos de espelhos. Os mais utilizados são os espelhos planos e os espelhos curvos, e os de alta intensidade. Um espelho plano é uma superfície plana que produz imagens virtuais e simétricas dos objetos. Assim, a imagem dada por um espelho plano é do mesmo tamanho que o objeto, mas virtual, uma vez que não se pode projetar num alvo; é direita e é simétrica, ou seja, invertida lateralmente (enantiomorfa).

ROSANE LEIRIA ÁVILA
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