quarta-feira, 14 de abril de 2010

Responsabilidade: moral ou social?



Na dúvida, escolha os dois. Palavra simples e corriqueira - mas muitas vezes de difícil assimilação em seu sentido amplo, a responsabilidade pode ser dividida em duas situações: moral e social. Na moral traduz a situação de um agente consciente com relação aos atos que ele pratica voluntariamente; ou em seu inverso - na obrigação de um agente inconseqüente de reparar o mal que se causou a outros.
Já no que diz respeito à responsabilidade social, segundo o Livro Verde da Comissão Europeia, é um conceito no qual as empresas decidem, voluntariamente, contribuir para uma sociedade mais justa e para um ambiente mais limpo. Mais claramente, o conceito de responsabilidade social deve ser entendido em dois níveis, segundo Carlos Cabral-Cardoso, autor do livro “Manual de Gestão de Pessoas e do Capital Humano”: interno e externo.
O nível interno diz respeito aos trabalhadores e a todas as partes interessadas e afetadas pela empresa e que, por seu turno, podem influenciar os seus resultados. Já o nível externo leva em conta as consequências das ações de uma organização sobre os seus componentes externos, nomeadamente, o ambiente, os seus parceiros de negócio e meio envolvente.
Juntar lixo seco e aguardar, com paciência o dia da coleta; comer bala e não jogar aquele ínfimo papelzinho no chão; levar sacolas de tecido às compras ao invés de voltar para casa carregado de sacos plásticos; escolher nas prateleiras dos supermercados produtos concentrados cujas embalagens são menores; ou ainda, dar preferência aos biodegradáveis (e de quebra, que não sejam testados em animais) são atitudes simples e ao alcance de qualquer um.

Qualquer um?! Sim. E em qualquer nível social. Para quem assiste o quadro da Band, “Esse lixo é teu: lugar de lixo é no lixo”, aos domingos no mesmo horário do Fantástico, vê que isso é possível. E viável. Basta apenas um pouco de boa vontade e o parco entendimento de que aquilo de ruim que fazemos, seja aos outros ou ao meio ambiente, volta-se para nós se tornando o nosso algoz, ou seja, de vítima passa a ser agressor. Veja os exemplos das enchentes e caos nas grandes cidades após algumas horas de chuva.
Nos negócios, a responsabilidade social se tornou um dos fatores de competitividade. Se no passado o que identificava uma empresa competitiva era basicamente o preço de seus produtos, hoje se sabe que investir no permanente aperfeiçoamento das relações com clientes, empregados, parceiros, colaboradores e fornecedores, no fabrico de produtos e prestações de serviços que não degradem o meio ambiente, tornou-se também um ótimo negócio. Além disso, as empresas começaram a participar do desenvolvimento da comunidade da qual fazem parte, fazendo disso um diferencial cada vez mais importante na conquista de novos consumidores ou clientes.
Pelo retorno que tudo isso propicia para o futuro do país, seja econômica, ambiental ou socialmente, é que o movimento da Responsabilidade Social Empresarial vem crescendo bastante no Brasil nos últimos tempos. E quem lucra é a sociedade. (Com informações do Instituto Ethos).

Rosane Leiria Ávila
Publicado no Jornal Agora - caderno Mulher Interativa 

Dual


Um... Dois... Um... Dois... Os dedos tamborilavam impacientes na mesa, enquanto a cabeça saía solta pelo mundo. Queria fazer tanta coisa, justamente agora que se sentia no fim...
- Como assim, no fim? Indagou-lhe a amiga sem entender como alguém com 38 anos, bonita, vida confortável, podia se sentir acabada. Ou partindo desta para uma melhor. Alias, seria melhor mesmo? Afinal, quase todos são pecadores e o destino certo é o Inferno.
- Claro, sua boba. O Inferno não é num lugar longínquo como sempre a Igreja nos quis fazer acreditar. É aqui mesmo, na Terra. Nesta terra que meus olhos ardem de ver, retrucou.
Estava enjoada do noticiário diário: traições, guerras, bombas, terremotos, assassinatos, abusos de crianças, violência contra os animais, poluição, destruição, degradação do meio ambiente, maracutaias e sacanagens políticas... Sentia náuseas por causa de tanta coisa sem sentido... O medo e a incerteza batendo todo dia no vidro do carro quando saía...
- Ah, não. Você só está olhando para coisas ruins. O Planeta é mais. É luz, é beleza, é perfeito nos detalhes da natureza. Caprichoso no som das florestas ou no murmúrio das ondas dos oceanos argumentou a outra.
Mas ela fincou pé na assertiva.
- As florestas estão sendo derrubadas, os animais silvestres mortos ou traficados, as madeireiras ilegais deixam grandes extensões áridas na Amazônia. O governo agora quer fazer a usina hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu que ameaça afetar o rio Xingú e destruir grandes territórios dos índios caiapós e ribeirinhos. Será que é necessário como ele diz ser, mesmo? De verdade? Você sabe que a verdade não chega até nós, pobres eleitores e cidadãos comuns. Fica desfigurada pelos caminhos tortuosos e manipulados que percorre. 

Meu Deus, quanto pessimismo! O que você queria? A população dobrou nas últimas três décadas. Então, são necessários investimentos para grandes massas populacionais, retrucou a amiga.
Um... Dois... Três... Um... Dois... Três... Agora seus dedos estavam mais nervosos ainda. Encarou a outra com medo de se descontrolar e, a qualquer instante, pular no seu pescoço.
Mas, ao invés disso, desviou o olhar. E foi então que viu sua imagem refletida na vitrine da mega loja no passeio do shopping. Ela estava sentada numa dessas cafeterias no meio dos corredores. Sentiu estranheza e um profundo estremecimento. Aquela não era ela. A imagem era de uma senhora de 80 ou mais anos, já curvada pelo tempo. Cabelos brancos, rugas na face, mãos deformadas pela artrite.
Estendeu o olhar e procurou a imagem da amiga sentada à sua frente. De novo, outro susto. Aquela sim era ela. Estaria ficando louca?
Olhou para frente, buscou o olhar da amiga e lhe suplicou que olhasse para a vitrine.
- O que você vê? O que vê? - perguntou aflita.
Então, depois de infindáveis instantes a amiga voltou a cabeça lentamente para a direção dela e lhe disse:
- Eu vi o tempo.

Rosane Leiria Ávila 
Publicada no Jornal Agora - Mulher Interativa