quarta-feira, 13 de julho de 2011

O mundo das senhas



Troquei de agência, de número de conta, de senha. E a esqueci quando mais precisava lembrar... Eu já estava na fila do ônibus quando lembrei que precisaria ir a um caixa eletrônico. Entre chegar a casa, pegar o carro, andar alguns quilômetros para ir a um shopping, optei por ir à agência bancária a poucos metros do terminal.
Assim, ganharia tempo. Lerdo engano! A pressa e a ansiedade me fizeram reféns. Ao ter que digitar a senha alfabética no caixa eletrônico, tive um surto de amnésia e duas tentativas me jogaram a escanteio. “Sua senha foi bloqueada”, alertou a frase que apareceu no vídeo do terminal.


Quase em surto, chamei a auxiliar que, ao olhar o número e agência de minha conta, sentenciou: “A senhora precisará se dirigir à sua agência de origem”. Até aí, nada demais. A não ser que esta era no outro extremo da cidade. De uma cidade cujo trânsito tornou-se caótico pós-redução do IPI (durante o período de alguns meses, a cada 30 dias, dois mil novos carros circulavam pelas ruas da Capital).
Tudo isso passou pela minha cabeça em pouquíssimos segundos, creio. Porque fui trazida ao presente pela voz da moça: “Podemos fazer uma tentativa”. Ah, perfeito! Que bom! Ufa!
Ufa, nada! Logo após uma sucessão de digita aqui, abre janela ali, ela afastou-se um pouco do terminal e disse-me: “Agora, a senhora digite sua senha alfabética”. Ora, ora! Como assim, se era exatamente esta que estava fugidia de minha memória?



Voltei à estaca zero praguejando o mundo virtual das senhas. A cada dia, somos requisitados a criar novas senhas: do banco, do internet banking, alfanumérica, senha da tv a cabo; de cadastros on-line; senha da operadora de celular; do plano de saúde; palavra secreta; senha do programa de milhagens, do e-mail profissional, do e-mail pessoal, do MSN, Orkut, Facebook, Twitter...
Simplesmente, não dá para decorar todas e, quando acontece um lapso na memória, ficamos à deriva de acontecimentos torturantes. E a vida que era para ser simplificada pelas senhas, toma o caminho inverso e se complica.
Há algum tempo, por precaução, escrevi as principais dicas das também principais senhas no bloco de notas do celular. Calma, calma, a ‘master’, não. Perdi o celular e tive que trocar todas. O que nem preciso detalhar sobre o transtorno causado.
Por segurança, resolvi nada colocar no novo. E deu no que deu na última quarta, quando precisava de dinheiro para pagar a moça que fazia a faxina no meu apartamento.



À beira de um surto, lembrei-me do caderninho onde anotei todas as senhas e de ligar para casa pedindo a tal senha alfabética. Ela atendeu, localizou o caderno e a senha. Anotei, digitei no terminal e, enfim, deu tudo certo.
“Ainda bem que a senhora não havia digitado a senha errada por três vezes”, alertou-me a ajudante. Retribuí com um sorriso amarelo.
Retirei o dinheiro, corri para o terminal do ônibus e cheguei sã e salva com o dinheiro em punho. Agora, só preciso iniciar a maratona das trocas de senhas de novo.


Por: ROSANE LEIRIA ÁVILA
Publicada no Mulher Interativa / Jornal Agora www.jornalagora.com.br

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