sábado, 9 de outubro de 2010

Migração




Não sei se é cíclico, mas de tempos em tempos bate a necessidade de uma faxina sem dó nem piedade, arejando todas as frestas, todas as lembranças. Todos os guardados.
No último feriado, as centenas de publicações de jornais guardados com tanto cuidado foram a bola da vez. Olhei para o armário apinhado de papel. Por mais cuidado com desumidificador, o cheiro de mofo depois de um inverno chuvoso podia ser sentido tão logo a porta é aberta.



Olhei para o notebook: dois HDs com capacidades de armazenamento para muito mais do que o armário guardava. Além disso, a tomada de decisão se moveu pela ‘tecnologia das nuvens”. Se os arquivos armazenados no disco físico viessem a sofrer algum dano, sempre haveria o armazenamento na rede. E que pode ser acessado em qualquer lugar do mundo e a qualquer hora.
Então, pensei, para que colecionar papel se até mesmo a busca a um determinado assunto é mais rápido e eficaz através do computador? Passar tardes folheando papel à procura de um texto? E algumas vezes se frustrar? Pura doidice.


Olhei para o notebook: dois HDs com capacidades de armazenamento para muito mais do que o armário guardava. Além disso, a tomada de decisão se moveu pela ‘tecnologia das nuvens”. Se os arquivos armazenados no disco físico viessem a sofrer algum dano, sempre haveria o armazenamento na rede. E que pode ser acessado em qualquer lugar do mundo e a qualquer hora.
Então, pensei, para que colecionar papel se até mesmo a busca a um determinado assunto é mais rápido e eficaz através do computador? Passar tardes folheando papel à procura de um texto? E algumas vezes se frustrar? Pura doidice.


Li em algum lugar que alguns pais e professores estão preocupados porque os jovens estão preferindo acessar a internet para pesquisas nos estudos. Isso é praticamente um adeus declarado às barsas, britânicas, atlas, almanaque...
Mas por que a oposição deles? Para que resistir se existe uma que, ao contrário das tradicionais, é gratuita, interativa e traduzida atualmente para 205 idiomas? A Wikipédia, dos americanos Jimmy Walles e Larry Sanger criada em 2001 rapidamente se tornou uma das páginas mais acessadas da Internet, com 1,6 milhão de verbetes e 3,1 milhões de artigos. Se é confiável? Especialistas compararam 50 artigos da Wikipédia com 50 artigos da Enciclopédia Britânica e encontraram um empate técnico de quatro erros nas duas. Ressalte-se que a Britânica é a mais conceituada enciclopédia convencional do mundo.


Porém, se a conclusão foi fácil, levada a feito tornou-se quase nostálgica. Além disso, a migração para o armazenamento tecnológico engoliu boa parte do meu feriadão.
Entretanto, o pior ainda estava por vir: o adeus, no dia seguinte quando o caminhão do Lixo Limpo chegou para recolher as pilhas de jornais colocadas na calçada. Fiz um minuto de silêncio num adeus quase solene a muitos anos de cumplicidade entre leitura e leitor.
Acompanhei o caminhão quase até ele sumir no declive do fim da rua. Mas quando subi os dois lances de escada sentia-me leve e já fazendo planos para o armário vazio. Ou melhor, para o vazio sem o armário, que agora seria desnecessário.

Rosane Leiria Ávila 

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