quinta-feira, 30 de abril de 2009

Verdades & Mentiras

Por que é tão difícil lidar com a verdade e tão mais fácil falar uma mentira? E por que as pessoas tendem a se magoar com uma verdade, quase obrigando as outras a trapaceá-las com uma mentira?

Pensei sobre essa relação estreita e delicada entre verdade e mentira nesta semana, quando ouvi o desabafo de uma amiga. Atendendo um pedido de sua mãe, ela estava hospedando uma amiga desta há cerca de um mês. E, diante da iminência da visitante ficar por um prazo indeterminado, precisou usar do artifício de uma mentira para ter de volta a sua privacidade. Sua vida estava se tornando um caos. O marido lhe disse, à queima-roupa, que não agüentava mais. “E olha que ele é a pessoa mais calma e pacienciosa que conheço”, disse-me ela. 

Minha amiga o viu no limite e temeu pelo que pudesse vir a acontecer ao relacionamento dos dois, e pelo estresse que surgiria com a mãe dela se fosse deflagrada uma explosão verbal. Afinal, aquela senhora era a melhor amiga da sua mãe e estava cuidando do irmão na UTI de um hospital, sem qualquer previsão de mudança no quadro clínico. “Meu marido a escutou falar ao telefone com parentes em sua cidade e compreendeu que haveria uma substituição nesse ‘plantão’, ou seja, ela iria embora e viria outra pessoa substituí-la. E para ficar na nossa casa!”, contou-me alarmada.

O assunto é prato cheio para análise e embora já tenha sido exaustivamente debatido, continua como uma intrincada peça de perdas e ganhos em nosso dia-a-dia. Os que dizem a verdade, geralmente são considerados ingênuos e, não raras vezes, ganham inimigos. Existe até um cálculo de que a cada cinco minutos uma mentira vem aos lábios, contabilizando uma média de 200 vezes por dia.

Segundo a psicóloga americana Bella DePaulo, da Universidade da Virgínia, EUA, os cônjuges e familiares são vítimas de dois terços de todas as mentiras graves. “Sorrimos diariamente com um olhar inocente para manter uma boa atmosfera, ou para nos apresentar sob uma luz mais favorável”, diz ela. 

Mas não é preciso se enganar também que mentira tem que ser elaborada. Afirmações falsas ou falsos elogios igualmente são mentiras, mesmo aquelas comuns tipo: “você está mais ótimo mais magro ou mais gordo”, ou ainda “não fui trabalhar hoje porque estou gripado”, numa afirmação deslavada.

Li em algum lugar que existe apenas uma diferença entre a verdade e a mentira: a mentira é sempre verossímil. Já a verdade, na grande maioria das vezes, é inacreditável. Ou inaceitável.


Rosane Leiria Ávila (POA, 1º de abril de 2009)

Publicado no Mulher Interativa (http://mulher-jornalagora.blogspot.com) / Jornal Agora (www.jornalagora.com.br)

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