sábado, 18 de abril de 2009

Temperança



O artigo não era novo, mas na sala de espera de um consultório médico chamou minha atenção pelo fato de ser atemporal. Em um número da revista Bons Fluídos de 2006, a jornalista e pesquisadora Sônia Hirsch escreveu sobre temperança.

Temperança, segundo o Aurélio, é qualidade ou virtude de quem é moderado, ou de quem modera apetites e paixões; sobriedade. Também significa moderação, comedimento, temperamento, economia e parcimônia.

Pensei que temperança é o que deveria pautar a vida de todos nós. Ultimamente tenho pensado sobre o futuro da Humanidade e do nosso próprio povo. E tenho sido cética em minhas conjeturas de que não há saída, de que o mundo não vai ficar melhor e de que os homens não vão rever conceitos nem mudar costumes e ambições. Entretanto, como escrevi acima, se em cada um de nós estivesse plantada uma sementinha de temperança, viveríamos tempos melhores. Deixaríamos perspectivas de vida mais dignas, mais saudáveis e mais humanas aos adolescentes e crianças de hoje.

Temperança, quando a questão é o alimento como uma experiência diária de prazer e satisfação que precisa de temperos, não o dos vidrinhos, mas o da consciência, afirmou Sônia, é por exemplo, comer só na quantidade adequada à necessidade do momento. “Comer demais é uma das maiores burrices da vida e, além de ser um desperdício, sobrecarrega a digestão, entorpece a mente, engorda, prende o intestino e vira doença”.

E penso que quando a questão é moral,temperança é não se desejar mais do que se pode usufruir; é não ter demais quando tantos têm tão pouco. Temperança é saber que podemos ser felizes com o razoável. É se contentar com um carro popular ao invés de sonhar com um modelo importado, porque ambos percorrerão as mesmas distâncias. Temperança é um estado de consciência sempre em alerta aos excessos e às vicissitudes descabidas.

A autora também citava o livro Pequenos Tratados das Grandes Virtudes, do filósofo contemporâneo André Comte-Sponville (Editora Martins Fontes): “A temperança, que é a moderação nos desejos sensuais, é também a garantia de um desfrutar mais puro ou mais pleno. É um gosto esclarecido, dominado, cultivado. Em vez de escravos, passamos a ser senhores de nossos prazeres”.

O grande pensador do século XVII, Baruch Spinoza (1632-1677), diz que a temperança é um meio para a independência, assim como essa é um meio para a felicidade: “Ser temperante é poder contentar-se com pouco. Mas não é o pouco que importa: é o poder, e é o contentamento”.

 

Rosane Leiria Ávila (publicado no Jornal Agora)

www.jornalagora.com.br

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