domingo, 4 de julho de 2010

O som do silêncio



Você já esteve no centro de um dia no qual tudo o que queria era ficar quieto? Em silêncio? Em um dia no qual queria que o mundo fizesse silêncio? Que as buzinas não tocassem? Que as pessoas não falassem alto demais, que o som da tevê não fosse gritante e estridente? Um dia no qual tudo o que queria era escutar o som do silêncio?
O silêncio tem som. É verdade. E seu som nos diz muitas coisas. É só ficarmos atentos.
De repente, fui invadida por uma enorme vontade de ampliar o horizonte do meu silêncio escutando a sonoridade mansa de Diane Krall, sua voz, suas músicas... E foi assim, que ele – o silêncio -, se transformou num fundo musical na última quarta-feira, através da música "When I look in your eyes”.
Peguei no armário o CD dela, com certeza lançado há quase uma década. O que fui buscar, se o que queria era o silêncio? Lembranças? Refúgio em sua melodia? Seria esse um sintoma de saudosismo?
Quantas perguntas fiz a mim mesma depois que o relógio passou da meia-noite! O silêncio aguçou meus questionamentos... Ah, sempre ele – o silêncio que volta e meia me toma de assalto e ordena: “fica quieta!” Ou que me dá ímpetos de sugerir aos outros: “baixem o tom, baixem o som, escutem o silêncio interior...!”
Lembro-me de mim como uma criança silenciosa. Talhada assim talvez pela pouca psicologia - ou nenhuma -, da primeira professora na escola. Alegre e tagarela, assim como as outras crianças eu aguardava sua chegada, depois da sineta bater. Distraí-me ou me empolguei e não vi quando ela entrou, postando-se em sua mesa. Todos calaram, mas eu continuava virada para trás conversando com a amiguinha. Foi quando a escutei dizer meu nome em tom bastante alto, seguido pelas palavras: “Cale a boca. Sua voz é horrível!”.
Passei o resto daquele ano calada. E nos muitos que se seguiram, economizei as palavras o máximo que pude. Até compreender que, de nós duas, era ela quem tinha a voz horrível, pois era carregada de ressentimento com a vida.
Mas acho que escutar Diana não teve por um motivo especial. Afinal, precisa mesmo de um para ouvi-la? Ela, por si só, já se faz especial. Sua voz sempre me pareceu preguiçosa, letárgica. E, por isso mesmo, capaz de me arrastar por um fio condutor imperceptível a novos caminhos silenciosos toda vez que a escuto. Como se o seu tom tivesse o dom me conectar ao silenciário.

Rosane Leiria Ávila
Publicado no Jornal Agora www.jornalagora.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário