sexta-feira, 12 de março de 2010

Dor na consciência...

água potavel

Toda vez que abro a torneira para lavar uma louça penso nos milhões de pessoas que estão fazendo exatamente o mesmo no planeta. Isso me faz diminuir a saída de água e racionalizar meu consumo. Mas quantas destas pessoas estão também fazendo isso?

Abro o chuveiro e lá vem o mesmo pensamento de novo. Imagino os bilhões de litros de água que estão naquele exato instante descendo (moro em apartamento) canos abaixo... Novamente sou tomada de um ataque súbito de consciência e diminuo o tempo do banho e a vazão da água.

É totalmente inadmissível não se pensar no esgotamento dos recursos hídricos da Terra, embora chova muito ou ainda o nível dos oceanos estejam subindo devido ao degelo dos pólos.

Quando saio a passear com minha cachorra e vejo folgados vizinhos a regarem o jardim despreocupadamente; ou pior, a lavarem calçadas descaradamente, sinto ímpetos de desfiar impropérios sem fim e colocar em xeque-mate seus níveis de civilidade, cidadania e consciência.

O Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, emitiu um relatório alertando que o mundo vai sofrer com a falta de água doce em menos de 20 anos. O motivo? A demanda cresce em ritmo mais rápido que a população mundial. Os autores do estudo afirmaram que em menos de duas décadas a falta de água fará com que a Índia e os EUA percam totalmente suas colheitas, fazendo com que a procura por alimentos se torne praticamente uma guerra.

O mesmo relatório também calculou que no ritmo atual de derretimento, a maioria das geleiras do Himalaia e do Tibet desaparecerá até 2100. Além disso, que 70 dos maiores rios do mundo ficarão secos por causa dos sistemas de irrigação para a agricultura.

E o que mais me fere é ver que essas pessoas que abusam dos recursos do planeta, que agridem e ferem a natureza, que desperdiçam desde os versos das folhas de papéis cujas florestas foram derrubadas e litros de alvejantes foram derramados nos rios para que estas lhes chegassem alvíssimas às mãos, são as mesmas que têm vários filhos e uma prole crescente de netos. O que pretendem deixar para eles? Qual o exemplo que lhes estão dando? A meu ver, a lição que lhes estão passando garante apenas o continuísmo de seus próprios e nefastos atos.

E como acredito no “Efeito Borboleta” - teoria da realimentação onde os efeitos finais estão ligados às condições iniciais da alimentação dos dados -, é mais do que previsível qual será o resultado final de tudo isso.

Há muitos anos se vem ressaltando que o homem está destruindo a vida do planeta. De uns tempos para cá, de forma galopante. Mas será que no final a Terra poderá continuar existindo, de uma ou de outra forma? Árida, talvez transformada em pedra? E o que será extinto será o próprio homem que não encontrará mais condições propícias à sua sobrevivência? O que leva a pensar que ele está dando a sentença a si próprio... Ele é que desaparecerá... Pelo menos na forma e no tipo de matéria que se reconhece como homem...

Rosane Leiria Ávila

Publicado no Jornal Agora (http://www.jornalagora.com.br), edição 27 e 28 de fevereiro de 2010.

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