sexta-feira, 26 de junho de 2009

Leilões íntimos



Enquanto pensava num tema para a crônica desta semana, por mais que vários assuntos pipocassem à minha mente, não me sentia atraída especificamente por nenhum. Até que por volta das 15h da última quinta-feira, precisei sair. O destino? Um leilão.
Você já foi a algum leilão? Eu nunca, até então. Pensei encontrar uma cena daquelas vistas em filmes - muitas pessoas confortavelmente sentadas num amplo salão, enquanto um impecável leiloeiro ia oferecendo os bens... Tipo leilão de artes, que é a referência eu tinha oriunda de filmes.
Mas, para minha decepção, o que encontrei foi um grande depósito entulhado de equipamentos, móveis, máquinas, computadores e eletrodomésticos velhos. Tudo caindo aos pedaços... Quase sucata coberta de pó. Mais parecia um brique do que um lugar onde bens em perfeitas condições de uso estão à disposição da Justiça para serem vendidos.
Olhei para a meia dúzia de pessoas que lá estavam, buscando o por quê de comprarem objetos que são mais entraves do que qualquer outra coisa.
O cenário me remeteu à vida de algumas pessoas cujas casas eu vi e se assemelham àquele depósito de leiloeiro. São geralmente pessoas que têm um alto grau de apego aos objetos, depositando neles fios indeléveis de saudosismos e links com um passado que não voltará jamais. Como se as lembranças não estivessem para sempre guardadas na memória. E isso já bastasse.
Para mim, pessoas assim são incapazes de se modernizarem, de arejarem seus espaços e suas próprias vidas, abrindo lugar ao novo... Pelo perfil, também têm dificuldades em colocar um fim em relacionamentos falidos, antigos e frustrados.
Se promovessem um “leilão íntimo”, se livrariam de todos os velhos e arraigados conceitos ou ressentimentos que acumulam por anos a fio.
A vida é curta - um breve sopro entre duas eternidades. Mas insistimos em viver como se tivéssemos um tempo infinito.
Na verdade, o temos. Mas não nesta vida presente. E é do presente que falo. Da felicidade. Da leveza. E da coerência que devemos ter nesta materialidade que nos ampare e sirva de lastro a uma próxima, que certamente virá. E dessa forma, com certeza, um pouco da ‘lição de casa’ já estará feita.
(Publicado no jornal Agora http://www.jornalagora.com.br/ em 06-07 jun 2009) 
 

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